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Sociedade
Presidente da Câmara na abertura das Jornadas Agrícolas: Setor agrícola pode dar resposta ao desemprego no arquipélago
12 março 2012

O presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, Roberto Monteiro, considera que o setor agrícola pode absorver a mão-de-obra desempregada no arquipélago, particularmente a libertada pelo setor da construção civil. O autarca manifestou esta visão na abertura das Jornadas Agrícolas da Praia da Vitória, que decorreram entre sexta-feira e domingo, na Sociedade Filarmónica da Fonte do Bastardo.

Na sua intervenção, Roberto Monteiro desafiou os técnicos e os responsáveis no setor a encontrarem estratégias que permitam concretizar esta visão.

“Há uma responsabilidade acrescida para o setor primário. Com o desemprego que temos, particularmente no setor da construção civil, a atividade agrícola pode ser uma solução para muitos daqueles que não conseguem encontrar um trabalho noutros setores. É um desafio que lanço: pode ou não o setor primário absorver a mão-de-obra que não encontra trabalho noutros setores, caso da construção civil?”, desafiou.

“Sejamos hábeis em perceber o que nos aconteceu no passado, quando a indicação externa foi no sentido de deixarmos de produzir. É importante refletirmos nessa questão, em busca de soluções que provam ou não se reside no setor primário uma resposta ao desemprego pouco qualificado”, acrescentou.

O presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória sublinhou também a sua convicção de que o sucesso do setor agrícola e pecuário passa substancialmente pela valorização das produções.

“Para conseguirmos aumentar o rendimento, temos que ser capazes de encontrar soluções que acrescentem valor ao que produzimos. Há exemplos atuais que provam o sucesso dessa estratégia. E neste momento, entendo que é este o caminho que a agricultura e a pecuária açoriana devem seguir. Porque todos os restantes elementos estão limitados. Só conseguiremos aumentar o rendimento se formos capazes de valorizar o que produzimos”, argumentou.

Relevou também a importância de as análises sobre o setor agrícola e as consequentes ações geradas desses debates refletirem uma visão de médio e longo prazo do setor.

“É fundamental termos um enquadramento das decisões tomadas hoje assente no futuro do setor. O que fazemos hoje deve ser pensado em função do futuro de cada atividade. Ou seja, a perspetiva tem de ser de médio e longo prazo. A sustentabilidade do setor assenta, sem dúvida, nesta visão”, disse.

“Todos os anos, numa matéria de grande relevância, fazermos um ponto de situação e uma análise do que foi feito e do que é preciso fazer. A qualidade do produto, a gestão das explorações, os custos e os ganhos das produções, as técnicas que adotamos e, acima de tudo, a sustentabilidade do setor. Tudo isso deve ser pensado regularmente. E é isso que fazemos nestas jornadas”, realçou, numa referência direta ao formato das jornadas agrícolas da Praia, que vão na sua quinta edição.

 

Formação permanente

 

Para o diretor regional do Desenvolvimento Agrário, que interveio na sessão de abertura das Jornadas Agrícolas, que decorreu na noite de sexta-feira, 09 de março, o setor agrícola açoriano tem dado provas de saber enfrentar os desafios.

“As últimas estatísticas, certificadas pelas instâncias europeias, constatam que os agricultores açorianos são dos mais evoluídos e dos mais competentes. Esse documento demonstra também que o agricultor é agricultor por interesse económico e não por sentimento à terra. Este indicador dá o mote para o que estamos a fazer na Região: há um investimento enorme na agricultura e na pecuária. Isto desencadeia economia a jusante e a montante, criando empregos, desenvolvimento e atividade económica. Isso é salutar”, realçou Joaquim Pires.

Para o responsável, os agricultores açorianos estão conscientes das dificuldades do setor, mas já perceberam que o sucesso das suas explorações reside na formação permanente e na atualização de técnicas e tecnologias.

“Ser agricultor hoje, obriga a possuir vários conhecimentos, de várias proveniências; da sanidade animal à reprodução, da gestão à economia e à informática. Hoje, o agricultor é um técnico, um empresário, um gestor. Hoje, a nossa agricultura está recheada de exigências. E tais exigências só são colmatadas com a constante formação e conhecimento”, frisou.

No final da sua intervenção, a nota de destaque do diretor regional do Desenvolvimento Agrário foi para a juventude presente na sala: “Ver esta sala recheada de jovens é, para mim, a prova de que este setor não está moribundo. Está vivo, consciente dos obstáculos, mas apostado no crescimento, na modernização e na valorização dos nossos produtos”, disse, perante as várias dezenas de agricultores, técnicos e convidados que encheram, durante três dias, a Sociedade Filarmónica da Fonte do Bastardo.

 

Libertar terrenos

 

Por seu turno, o presidente da Associação Agrícola da Ilha Terceira (AAIT) sublinhou o momento difícil por que atravessa o setor, particularmente o permanente aumento dos custos de produção face à estagnação do preço do litro de leite vendido às fábricas de transformação.

“As dificuldades no setor estão a agravar-se. Os fatores de produção estão a aumentar o preço e o valor do litro de leite tem vindo a manter-se nos últimos anos. Esta situação está a causar enormes problemas nas nossas explorações agrícolas. Portanto, o cenário não é muito animador. A manter-se esta realidade, muitos vão desinteressar-se do setor. Além disso, este emagrecimento está a ter efeitos no tecido empresarial ligado diretamente ao setor agrícola. É perguntar às empresas quanto lhe devem os agricultores. É pois tempo de reforçarmos a investigação, no sentido de conseguirmos trazer maior rendimento às nossas explorações”, disse Paulo Simões.

“Temos dados passos na qualidade da produção e na sua diversificação. É um fator importante, que valoriza os nossos produtos. E temos capacidade para muito mais”, sublinhou.

Na sua intervenção, o responsável agrícola alertou ainda as autoridades regionais e municipais para a necessidade de serem protegidos os terrenos agrícolas perante a pressão imobiliária.

“Há terrenos muito bons para agricultura que estão a ser usados para construção de casas. Há centenas de casas abandonadas. E em vez de serem recuperadas, continuamos a construir novas casas. Porque não se incentiva à reconstrução dessa habitações em vez de usar terrenos agrícolas para esse fim. Cada vez temos menos área agrícola. Por isso, apelo que os nossos governantes deem atenção a esta situação”, alertou Paulo Simões.

O desafio encontrou eco na intervenção do presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, que interveio depois do presidente da AAIT.

Roberto Monteiro reconheceu a pertinência da questão e, no caso da Praia, desafiou as associações agrícolas a contribuírem para a revisão do Plano Diretor Municipal (PDM) do Concelho, que ocorrerá em 2012.

“Os instrumentos de gestão territorial dependem sempre das negociações existentes e pressões no momento em que são realizados. Ao mexer-se hoje num PDM, a visão terá que ser diferente. A construção civil deixou de ser o motor da nossa economia. Por isso, acredito que os instrumentos de gestão territorial vão ajustar-se a esta nova realidade. A nossa revisão ao PDM será feita em 2012. Por isso, apelo às entidades representativas dos setores que participem na discussão pública desse documento, para que possamos responder às necessidades deste momento”, sublinhou.

Antes de Paulo Simões interveio o presidente da Associação de Jovens Agricultores Terceirenses, Anselmo Pires. No seu discurso, o representante dos jovens agricultores enfatizou a importância da formação para o setor.

“É fundamental termos conhecimento de muitas das questões pertinentes do nosso setor. Hoje, mais do que nunca, a formação constante é essencial para o sucesso das nossas explorações”, disse.

“As exigências com que nos deparamos, obrigam a que dediquemos especial atenção a várias questões, da proteção ambiental ao rendimento, das condições higieno-sanitárias à valorização da nossa produção. Estas jornadas são um contributo para termos respostas concretas para os nossos problemas”, sublinhou.

Anselmo Pires desafiou também os responsáveis governamentais a reforçarem as condições para que os jovens invistam no setor agrícola e que lutem pela manutenção das quotas leiteiras.

Na primeira intervenção da sessão de abertura da 5ª edição das Jornadas Agrícolas da Praia da Vitória, o presidente da Junta de Freguesia da Fonte do Bastardo, Martinho Diniz, sublinhou a importância da descentralização do evento pelas freguesias do Concelho, realçando o seu impacto na promoção da freguesia onde elas decorrem.

Durante três dias, as Jornadas Agrícolas da Praia da Vitória reuniram agricultores, técnicos regionais e nacionais e responsáveis governamentais em debates sobre vários aspetos da produção de leite, carne, fruta, vegetais e flores no arquipélago.

Gabinete de Comunicação

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