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Sociedade
Francisco Cota Rodrigues no Ciclo de Debates “Praia da Vitória 2013-2020”, “Praia da Vitória tem de beneficiar dos recursos que são extraídos do seu território”
03 junho 2013

A Praia da Vitória deve beneficiar de todos os recursos extraídos do Concelho, nomeadamente da água consumida na Base das Lajes ou da areia extraída da baía. A defesa foi feita pelo professor universitário Francisco Cota Rodrigues e partilhada pelo diretor regional dos Assuntos do Mar, Frederico Cardigos.

Para Cota Rodrigues, a ausência de controlo na extração de água no Concelho da Praia por parte da Força Aérea Portuguesa e do contingente militar norte-americano na Base das Lajes pode pôr em causa a qualidade da água extraída pela Praia Ambiente e essas duas entidades só beneficiariam ao utilizar água da empresa municipal praiense.

“A Força Aérea e o contingente americano extraem a sua água do aquífero basal. Ao fazê-lo, aumentam o risco de salinidade nesta, o que pode prejudicar a água da Praia Ambiente. Além disso, no caso americano, a água que extraem é tratada, o que aumenta consideravelmente o custo de cada litro de água que consomem. Se a adquirissem à Praia Ambiente, poderiam ter a mesma água a metade do preço”, exemplificou o responsável, no debate sobre Ambiente e Recursos Naturais no ciclo promovido pela Câmara Municipal intitulado “Praia da Vitória – estratégias de desenvolvimento 2013-2020”, que decorreu na manhã de segunda-feira, 03, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

Francisco Cota Rodrigues sublinhou ainda que o abastecimento de água em toda a ilha beneficiaria consideravelmente se houvesse uma gestão integrada deste recurso, em vez da atual gestão mantida por cinco entidades (Praia Ambiente, Serviços Municipalizados de Angra, IROA, Força Aérea Portuguesa e Força Aérea dos EUA).

“Por exemplo, atualmente, a água em excesso no Cabrito podia abastecer a Base. Com uma gestão integrada, ganharíamos pelas sinergias dos recursos técnicos de cada uma das instituições; ganharíamos na qualidade da água fornecida; ganharíamos pela melhor utilização dos recursos; ganharíamos pelo fim de excedentes”, explicou.

O professor universitário, que já foi responsável pelos Serviços Municipais de Angra e pela Praia Ambiente, sublinhou ainda que a água fornecida na Praia é de boa qualidade e garantiu que não apresenta qualquer contaminação, “como ficou provado pelo relatório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil”.

“Consultei o documento e as análises e posso garantir isso”, realçou.

Quanto à gestão dos resíduos, Cota Rodrigues sublinhou a qualidade do serviço prestado na Praia e explicou que o próximo passo (em estudo na ilha) é o aproveitamento dos resíduos para produção energética.

Potencial do Mar

Por seu turno, o diretor regional dos Assuntos do Mar sublinhou o potencial do Mar açoriano em várias vertentes, do turismo à exploração de minérios.

“Temos uma vasta área de mar, com potencial a várias profundidades, da costa ao fundo marinho. Já há empresas a explorar algumas vertentes, mas podemos ter mais projetos. Contudo, acho que falta alguma capacidade empreendedora”, adiantou o responsável.

Frederico Cardigos destacou várias riquezas que o mar açoriano encerra: da biodiversidade aos minérios, passando pela investigação ou pela pesca, quer desportiva quer comercial.

“Há espécies que só podem ser observadas aqui. Existem riquezas minerais no fundo do nosso mar. O potencial turístico é enorme. O mar que nos rodeia é, sem dúvida, uma maravilha, que tem vindo a ser galardoada inúmeras vezes e reconhecida pela sua qualidade. E aqui, na Praia da Vitória, tudo isso também pode ser aproveitado. Há aqui um porto com enormes potencialidades que tem de ser aproveitado”, sublinhou.

O diretor regional dos Recursos do Mar destacou ainda o vasto conhecimento científico sobre o mar produzido pela Universidade dos Açores, “que nos garante um conhecimento muito considerável dessa nossa riqueza”, garantiu.

Biotecnologia e extensão rural

Outro dos enfoques no quinto debate do ciclo promovido pela Autarquia para pensar o Concelho foi a agro-biodiversidade, particularmente o conhecimento que existe hoje e que pode melhorar decisivamente a produção agroalimentar na Região e no Concelho.

Artur Machado, do Centro de Biotecnologia dos Açores, integrado na Universidade dos Açores, destacou as propriedades que têm vindo a ser estudadas e confirmadas em várias espécies locais e que devem ser aproveitadas.

“Estudamos, por exemplo, as várias qualidades de macieiras que existem nos Açores e esse conhecimento devia ser aproveitado. Quer nos pomares locais, quer pelo seu potencial de exportação dessas sementes. Mas, na minha opinião, a falta da extensão rural nos Açores está a impedir o aproveitamento e a rentabilização deste conhecimento”, sublinhou.

“O problema é que, por opção política, apostou-se na produção de leite – mesmo sendo este de pior qualidade do que o produzido por outras raças – e na produção de erva e deixamos esquecer as nossas produções, como a maçã, ou a vinha, entre outras. Hoje, estamos a recuperar esse conhecimento, comprovando as qualidades de muitas das nossas espécies. Mas é preciso rentabilizar esse conhecimento. E, em grande medida, isso depende de vontade política”, frisou o académico.

“Por exemplo, há mais de uma década que digo que a vinha que tem vindo a ser plantada não está livre de um vírus que prejudica a estabilidade da produção. Mas continuam-se a plantar vinhas e reconverter espécies sem ter isso em conta. É mais uma prova de que insistimos em não ouvir o que os estudos mostram”, frisou Artur Machado.

“O essencial é que, é fundamental conhecermos as qualidades das nossas espécies porque, dessa forma, abrimos variadíssimas portas com potencial económico”, adiantou.

Questionado pelo presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória sobre que caminhos seguir, o académico desafiou o executivo municipal a reivindicar para a Praia a concretização de projetos inovadores.

“Não falo em projetos ou ideias enormes. Falo de a Praia se consolidar como o Município que aposta e ajuda a concretizar inovações e ideias ganhadoras. Já é tempo de deixarmos de apenas falar no empreendedorismo e na inovação e de levarmos isso à prática. A Praia pode ser pioneira nisso”, desafiou.

O debate que decorreu na manhã de segunda-feira sobre Ambiente e Recursos Naturais foi o quinto do ciclo promovido pela Câmara Municipal para pensar o Concelho no período 2013-2020.

O próximo debate decorrerá no dia 06, pelas 10h30, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, subordinado ao tema “Educação e Formação”.

Gabinete de Comunicação.

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