Comercialização, indexação do preço do leite e substituição das importações. São estes os maiores desafios atualmente para a agricultura terceirense, segundo o presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória.

Roberto Monteiro, que falava na apresentação da 8ªedição das Jornadas Agrícolas da Praia da Vitória, que decorrem de 20 a 22 de março no Centro Social do Juncal, argumenta que estes três pilares são essenciais para que o setor ultrapasse a crise que atravessa.

“Hoje, vemos os empresários agrícolas preocupados com a rentabilidade das suas explorações, assim como com a sua eficiência. Cada um deles, ajudados pelas associações, sabem os seus custos de produção e o impacto das variações nos mercados. Ora, isto prova que estão cada vez mais despertos para estas realidades. Mas também sabem da sua fragilidade perante as oscilações nos mercados, isto porque não têm qualquer influência nesses fatores. Logo, penso que um dos desafios mais prementes no setor passa pela intervenção na comercialização, na ligação aos canais de distribuição e, por essa via, na valorização da produção local, conseguindo-se assim maior rendimento para o produtor. Deixar a valorização e a comercialização à mercê de outros interesses provoca os constrangimentos que conhecemos”, argumentou o autarca praiense.

“De igual modo, acho que, ao nível do leite, é fundamental procurar-se uma solução que permita a indexação do preço do leite, tendo como referência não apenas o leite em pó mas também outros produtos mais valorizados. Dessa forma, a indústria terá um incentivo para encontrar outros mercados e, por essa via, garantir um rendimento mais adequado aos produtores. Acho que esse deve ser o primeiro passo, em parceria com os produtores, as suas associações e o Governo Regional. Caso esta solução não seja viável, então deveremos trilhar um caminho que permita novas soluções na transformação do leite em produtos de maior valor acrescentado. Existem experiências nesse sentido, mas a sua dimensão não permite grandes impactos na produção local. Mas entendo que primeiro devemos explorar a questão da indexação e, só depois, alternativas ao nível da transformação”, explicou.

Na sua intervenção na apresentação das Jornadas Agrícolas, o presidente da Câmara Municipal da Praia reafirmou ainda a convicção de que outro dos pilares para um novo fôlego para a agricultura local passa pelo aumento da diversificação agrícola, particularmente por produções que permitam reduzir as importações nestes produtos.

“Hoje, já vemos muitos produtores de leite ou carne a entrarem noutras produções agrícolas, numa lógica de diversificação e de terem alternativas de rendimento. Acho que é uma estratégia adequada. Além disso, esta e outros projetos na área da hortifruticultura são importantes para que possamos inverter os valores das importações agrícolas, quem sabe, a longo prazo, conseguindo o autoconsumo”, precisou o autarca.

Para Roberto Monteiro, mais uma edição das Jornadas Agrícolas da Praia da Vitória significa mais um momento de reflexão e aprendizagem para o setor, devendo ser aproveitado por todos os produtores.

“É importante que, neste encontro, se promova o diálogo e não o monólogo”, sublinhou.

Por seu turno, a diretora regional do Desenvolvimento Rural referiu a importância do rejuvenescimento do setor agrícola, através da captação dos jovens que pretendam iniciar a sua atividade.

Segundo Fátima Amorim, “há uma grande preocupação em apoiar e modernizar as explorações agrícolas, nomeadamente nas áreas da agricultura, horticultura e floricultura, essenciais ao desenvolvimento do setor”.

“Os novos sistemas de incentivos continuam essa lógica”, sublinhou.

José António Azevedo, presidente da Associação Agrícola da Ilha Terceira, apresentou o programa e defendeu que “estas jornadas têm uma importância superior, tendo em conta as dificuldades que se vivem, neste momento. Devemos delinear estratégias para alavancar o setor agrícola, que é fundamental para o crescimento da nossa economia.”

Por seu turno, o presidente da Fruter, Fernando Sieuve Menezes, mencionou a importância do evento para discussão e debate de questões relacionadas com a substituição da importação pela exportação de produtos, alertando, contudo, para a necessidade de se analisarem em profundidade os sistemas logísticos associados à comercialização, importação e exportação, assuntos que debaterá na sua intervenção nas Jornadas Agrícolas.

Anselmo Pires, presidente da Associação de Jovens Agricultores Terceirenses, apelou à participação dos agricultores nestas jornadas, visto que a agricultura é o principal pilar da economia regional.

O representante da direção da empresa BioAzórica, Gonçalo Forjaz, destacou a participação de Alfredo Sendin nesta iniciativa, “um grande conhecedor da agricultura biológica, que nos trará uma visão diferente e muito interessante sobre o tema”.

Programa

A VIII edição das Jornadas Agrícolas tem início sexta-feira, 20, no Centro Social do Juncal, estando a sessão de abertura agendada para as 19h30, com as intervenções de Carlos Armando Costa, presidente da Junta de Freguesia de Santa Cruz; Fernando Sieuve Menezes, presidente da Fruter; Anselmo Pires, presidente da AJAT; Fátima Amorim, diretora regional do Desenvolvimento Rural; e Osório Silva, vereador do Desenvolvimento e Coesão Rural do Município da Praia da Vitória.

Pelas 20h00, José Filipe Martins abordará o tema “Sistema Unifeed vs Sistema Tradicional”. Meia hora depois, será apresentada a temática “Novos Desafios & Oportunidades na produção de carne de bovino”, por Jerónimo Pinto. Pelas 21h00, Firmino Cordeiro falará sobre o rejuvenescimento do setor agrícola. Após as intervenções, pelas 22h30, decorre um debate.

Para o sábado, 21, está agendada a intervenção de Fernando Sieuve Menezes, sobre “A importância do setor hortofrutícola, florícola e mel no contexto regional”, às 19h30. Pelas 20h00, Jorge Rira falará acerca do estado atual do setor agrícola nos Açores, seguindo-se de Fátima Amorim, que apresentará as novas regras do Posei e o Programa Prorural +, às 20h30. Ricardo Serrão Santos dará a conhecer as perspetivas das instituições europeias para o futuro do setor do leite, pelas 21h00. De seguida, terá lugar um debate, às 21h30.

No dia 22, domingo, os trabalhos iniciam-se às 19h30, com a apresentação do tema “Uma interprofissional no leite – Realidade ou utopia?”, por Sofia Ribeiro. Às 20h00, Alfredo Sendin intervirá sobre a temática “Agro-ecologia, o desafio dos ecossistemas produtivos”. Segue-se a sessão de encerramento, pelas 20h30, com a presença da presidente da BioAzórica, Mónica Oliveira; do presidente da AAIT, José António Azevedo; da vice-presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, Paula Ramos; e do secretário regional dos Recursos Naturais, Luís Neto Viveiros.

Gabinete de Comunicação.