“Estigmatização do erro é um dos grandes problemas do nosso sistema de ensino”. A afirmação foi central na comunicação de Ricardo Monteiro, do Instituto Augusto Cury, no painel sobre Educação que marcou o programa do segundo dia da II Semana Social, a decorrer até sexta-feira na Academia de Juventude e das Artes da Ilha Terceira, na Praia da Vitória.
Segundo o especialista, numa intervenção no painel dedicado à Educação que decorreu na manhã de terça-feira, 24, os educadores dão demasiada importância ao erro de um aluno e menos à importância de o facto de o aluno errar ser uma etapa central na sua aprendizagem.
“O erro deve ser usado para a nossa construção e não para a nossa destruição. Cada educador – quer seja o professor quer sejam os pais – deve privilegiar quem erra e não o erro que comete. Todos erramos: a maioria usa o erro para se destruir; a minoria para se construir. Estes são os sábios. Ou seja, cada erro que a criança comete deve servir-lhe como indicador de que o percurso que segue não está correcto, devendo avaliar a situação e enveredar por outra opção. Portanto, o importante é o destino que damos aos nossos erros”, explicou Ricardo Monteiro, na comunicação sobre “Os 7 Pecados Capitais dos Educadores”.
O especialista realçou ainda a importância de os educadores “educarem para o desconhecido”.
“Preparemos os nossos alunos para explorarem o desconhecido, para que não tenham medo de falhar, mas medo de não tentar. Ensinando-os a conquistar experiências originais, através da observação, de pequenas mudanças e da correcção de grandes rotas. Os novos estímulos estabelecem uma relação com a estrutura cognitiva prévia, gerando novas experiências e as novas experiências propiciam o crescimento intelectual”, argumentou.
Na sua comunicação, Ricardo Monteiro defendeu também que corrigir publicamente os erros dos alunos e expressar a autoridade com agressividade pode ser contraproducente em termos pedagógicos.
Estabelecer limites
Na primeira comunicação dedicada à Educação, da autoria do professor universitário e escritor francês Aldo Naouri, e que decorreu na noite de segunda-feira, 23, devido à impossibilidade, por motivos profissionais, do académico participar no debate na terça-feira, foi defendido que os pais devem “estabelecer limites aos filhos” e que essa realidade deve ocorrer nos primeiros três anos de idade.
Segundo o especialista, os pais são fundamentais no processo de desenvolvimento dos filhos e a sua acção nos primeiros três anos de vida é fundamental.
Aldo Naouri explicou aos presentes que cada criança, até aos três anos, deve conhecer que existem regras e limites para as suas acções e que não pode fazer tudo o que quer.
“Criou-se a ideia de que dizer não e impor limites fará com que os filhos não amem os pais. Aliás, muitos pais manifestam esse receio: perderem o amor dos filhos pelas regras e limites que lhes impõem. Ora, essa visão é errada. Todos os pais têm de convencer-se que os seus filhos estão condenados a amá-los e a odiá-los. A amá-los porque reconhecem neles a segurança, a família e o amor. E a odiá-los porque isso resultará na sua independência. Este é o processo normal da evolução e do desenvolvimento”, explicou o académico.
“Se uma criança não aprende a ter limites nos primeiros três anos de vida, quando for para a escola manifestará sérios problemas de integração e interacção com os colegas. Se até aos cinco anos não aprender os limites, será necessário um ano de intervenção para modificar o seu comportamento. Se não aprender os limites até aos dez anos, necessitará de dois anos de apoio para modificar o seu comportamento”, exemplificou.
“É esta a ideia central que vos quero deixar. Os pais são fundamentais na aprendizagem e no sucesso dos filhos. E impor limites – o que não significa violência física – é uma ajuda central nesse percurso”, concluiu.
Apoio à medida
Na primeira comunicação na manhã de terça-feira, o professor Victor Cruz, da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, realçou a importância da “individualização” e “personalização” dos processos educativos para as crianças com necessidades educativas especiais.
“Os educadores devem conhecer o percurso do desenvolvimento da criança para melhor o ensinarem. Devem situar a criança no percurso, o que permite desenvolverem estratégias educativas personalizadas e individualizadas. E devem interiorizar que ensinar implica conhecer um conjunto alargado e variado de estratégias. No fundo, o processo educativo para crianças com necessidades educativas especiais tem de ser feito à medida da criança”, sublinhou.
Segundo o especialista, são necessárias três características para que a criança esteja preparada para entrar na escola: competência cognitiva; motivação para aprender; e competências sócio-emocionais.
“É importante que os educadores percebam também que, no percurso formativo, o aluno pode revelar dificuldades na aprendizagem. Mas que estas são intrínsecas a essa criança e devem ser muito bem definidas. Porque, muitas vezes, os próprios educadores definem erradamente a dificuldade e, por isso, não estruturam adequadamente estratégias de intervenção e apoio”, explicou.
Neste painel participou também o professor João Carlos Mateus, em representação da secretária regional da Educação.
Na sua intervenção, o responsável realçou o empenho do executivo regional no reforço “da escola pública, inclusiva e acessível a todos”.
“Os esforços do Governo Regional têm sido canalizados para o combate ao absentismo e ao insucesso escolar, para a redução do analfabetismo e da iliteracia, e para o aumento da educação e da formação. Já foram alcançados muitos resultados positivos. E é esse caminho que estamos a prosseguir, convictos de que a educação e a formação são centrais e essenciais ao desenvolvimento regional, nos seus mais variados níveis”, referiu.
Gabinete de Comunicação.
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