Pequenos gestos podem ter um grande impacto na vida dos idosos. E uma parte desses gestos podem resultar da interacção de gerações, nomeadamente jovens e idosos. Esta é a génese do projecto “Vencer o Tempo em 7 Cidades”, que decorre em sete concelhos portugueses e que a Câmara Municipal da Praia da Vitória pretende aplicar.
O projecto, também reconhecido como “Cidade Amiga do Idoso”, foi apresentado por Sílvia Madeira, vereadora da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, no último dia da II Semana Social, organizada pelo Município praiense e que decorreu na Academia de Juventude e das Artes da Ilha Terceira.
“Este é um projecto piloto que durará dois anos, com o objectivo final de garantir a certificação da cidade pela Organização Mundial de Saúde como cidade amiga do idoso. É um projecto da autoria da Associação Vencer o Tempo, em parceria, nesta fase, com sete autarquias portuguesas, caso de Vila Real de Santo António. O lema central do projecto é ‘Pequenos Gestos para Grandes Mudanças’”, explicou a responsável.
Na prática, o projecto implica várias medidas a implementar para garantir o reconhecimento da Organização Mundial de Saúde: acessibilidades públicas facilitadas para os idosos, um sistema de apoio à saúde, programas de actividades direccionados para esta faixa etária, entre outras medidas.
“Neste âmbito, uma das iniciativas que tem apresentado resultados muito significativos é o intercâmbio de gerações. O projecto, em resumo, reúne um grupo de jovens e um grupo de idosos, que se voluntariaram. Cada jovem, depois de alguma formação, aceitou ajudar dois idosos, e estes aceitaram ser tutores do jovem. Na base deste compromisso, que tem vários – embora simples – deveres está a interajuda, o companheirismo e a solidariedade. No fundo, são pequenos gestos e acções que têm um grande impacto na vida destas pessoas”, explicou Sílvia Madeira.
“Por exemplo, temos o caso de um idoso que tem dificuldades de locomoção, mas que adora passear à beira do rio Guadiana, que banha Vila Real de Santo António. Ora, no âmbito do projecto, o jovem que é parceiro deste idoso comprometeu-se a, quinzenalmente, apoiar o passeio à beira rio do idoso. Este faz uma parte do percurso apoiado com umas canadianas e quando fica cansado é o jovem que o leva pelo resto do passeio numa cadeira de rodas. Este idoso rejuvenesceu. Noutro caso, um idoso tem a família a viver em Londres e só comunicava com eles por carta ou por telefone. Ora, o jovem que é seu parceiro ensinou-o a usar o Skype. Este idoso fala e vê todas as semanas o seu filho, a sua nora e os seus netos. Mas os idosos também ajudam os jovens. Temos o caso de um jovem de uma família muito pobre que não podia ter aulas no Conservatório por não ter meios para a viagem. O idoso que é seu tutor tem carta de condução e carro e, regularmente, leva-o às aulas. Ou seja, como vêem, são pequenos gestos que têm um grande impacto. É este o sucesso desta medida”, apresentou.
Vila Real de Santo António, Angra do Heroísmo, Alfandega da Fé, Maia, Portimão, Póvoa do Lanhoso e Vila Nova de Foz Côa são as sete cidades já envolvidas no projecto, a que a Praia da Vitória – segundo o presidente da Câmara Municipal – se pretende associar.
Intergerações
O exemplo apresentado pela vereadora da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António veio reforçar a linha mestra das intervenções anteriores no painel que debateu o idoso: a urgência de se promover a intergeracionalidade, como contributo para o bem-estar do idoso.
As enfermeiras Helena Vieira, Carla Fernandes e Rosa Carvalhal sublinharam a importância da integração do idoso na família e do empenho dos jovens e adultos no apoio à velhice e garantiram que essas estratégias reforçam consideravelmente o bem-estar dos idosos.
A ideia já havia sido sublinhada pelo presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, Roberto Monteiro, na abertura deste painel: “temos de voltar ao antigamente, quando os idosos eram centrais nas famílias, sendo cuidados pelos filhos e garantindo a memória, a sabedoria e o conselho da unidade familiar e da comunidade”.
Para os intervenientes, a velhice não deve ser vista como algo a esconder, mas sim como uma etapa da vida, que tem vantagens e desvantagens.
“Formar para o envelhecimento, saber que nos preparamos para o envelhecimento desde quando somos jovens, é uma das ideias que devemos apropriar”, explicou Rosa Carvalhal.
“E essa intergeracionalidade não deve ocorrer apenas no seio familiar. Sociedade, instituições públicas, famílias, idosos, devem todos contribuir nesta causa, desenvolvendo actividades, medidas e apoios tendo por base a noção de que o cruzamento das gerações é benéfico para o seu sucesso”, reforçou.
“Mas parte do trabalho deve ocorrer no seio familiar. O bem-estar do idoso começa a ser construído dentro da família. É urgente construirmos pontes para melhorar o bem-estar familiar dos idosos. E, nesse aspecto, a comunicação é essencial. E, em boa verdade, muitos dos problemas surgem porque não falamos, não comunicamos”, explicou, por seu turno, Carla Fernandes.
“Os idosos devem procurar conhecer e melhorar a sua velhice, promovendo a sua autonomia e participando nas actividades locais. As autarquias devem melhorar as acessibilidades e apoiar na dinamização de políticas que protejam e dinamizem a sua comunidade idosa; as empresas e a sociedade devem participar, apoiando projectos, criando bolsas de voluntários. Há uma infinidade de acções que podemos implementar e que, com pouco esforço e investimento, terão um enorme impacto na vida dos nossos idosos”, argumentou.
“Encontrar respostas integradas, promover o envelhecimento activo, combater o envelhecimento solitário são desafios a vencer nos próximos tempos. A nossa população tem vindo a envelhecer. Dentro de poucos anos, teremos mais idosos do que jovens. Portanto, é mais do que tempo de olharmos os idosos como participantes e integrados na comunidade, ajudarmos para que ultrapassem as suas fragilidades e percebermos que contributo podem eles dar para o nosso desenvolvimento enquanto sociedade”, sublinhou, por seu turno Helena Vieira.
Todas estas ideias ganharam expressão na apresentação do trabalho que tem vindo a decorrer no Centro Social São Francisco Xavier, no Raminho, cuja experiência foi relatada por Manuel Dias.
“É um projecto que começou pela iniciativa de um grupo de homens da freguesia e que, hoje, é um centro especial para os nossos idosos, que são tratados como uma família. Nascemos do voluntariado e parte do segredo do nosso trabalho reside no ambiente familiar e na dinamização que procuramos todos os dias, trazendo as actividades habituais e tradicionais da juventude e da idade adulta dos nossos idosos para o presente”, explicou, convidando todos a visitarem o trabalho ali realizado.
Balanço muito positivo
Na sessão de encerramento da II Semana Social, encadeada com o debate sobre o idoso, o presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória realçou a importância de os concelhos e as comunidades perceberem as novas dinâmicas sociais, económicas, demográficas e culturais, recriando conceitos e renovando acções para enfrentarem melhor os novos desafios.
“Por exemplo, a nova realidade social, até familiar, leva a que tenhamos que caminhar para uma estrutura reforçada de apoio aos idosos. No concelho da Praia, temos feito muito. Mas, de certeza, mais teremos de fazer, nomeadamente avançarmos para uma realidade em que teremos lares de idosos em quase todas as freguesias. E estas estruturas podem resultar de projectos comuns entre o público e o privado. São soluções que não podemos descartar”, argumentou.
“Esta foi uma Semana Social que debateu vários temas, da habitação social à pobreza, passando pelo idoso, a cidadania, ou o voluntariado. Foram muitos os contributos válidos e que, nos próximos tempos, contribuirão sem dúvida para a avaliação do que temos feito, para a melhoria do nosso trabalho e, acima de tudo, para novas políticas e acções que melhorem cada vez mais a qualidade de vida dos praienses, nomeadamente das crianças e dos idosos”, sublinhou.
“Vamos ter que encontrar respostas para os custos que a manutenção do parque de habitações sociais representa; vamos ter que abrir novas áreas da intervenção do voluntariado, caso do apoio ao estudo; o ambiente é cada vez mais uma questão de cidadania, onde a formação e a educação são essenciais; a pobreza tem outros rostos no arquipélago e é preciso termos resposta para esse problema, onde ganha evidência a necessidade urgente de recuperarmos a atitude de poupança que caracterizava os nossos avós ou os nossos pais. São várias mensagens que ficaram destes trabalhos”, resumiu o autarca praiense.
No final da sessão, Roberto Monteiro entregou o Cartão Municipal do Idoso nº1000 e apresentou o Guia Municipal do Idoso, um manual que será distribuído a todos os beneficiários do Cartão Municipal do Idoso, contendo informações úteis para esta faixa etária, assim como todas as empresas do concelho que aceitaram dar benefícios e descontos aos utilizadores do Cartão Municipal do Idoso.
Gabinete de Comunicação.
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